Hip Hop Birth Date
(11.08.2018)
• 1973 •
A DJ KOOL HERC PARTY – Os 45 Anos da
Festa que profetizou o surgimento do Hip Hop…
Em uma noite quente do dia 11 de agosto
de 1973, Clive Campbell, conhecido como “DJ Kool Herc”, e sua irmã “Cindy”
organizaram uma “Back to School Jam” [uma espécie de festa de retorno às aulas]
no salão de festas do playground de seu prédio no endereço de número 1520 da
Sedgwick Avenue, no West Bronx; um evento que sinalizaria os primeiros momentos
de um Movimento Cultural que seria conhecido como “Hip Hop”…
Com flyers em papel cartão artesanais
desenhados à mão indicando entradas a custo de 25 centavos para as “ladies” e
50 centavos para “fellas” circulando por todo o bairro, a festa poderia ser
considerada previsível, devido o seu tamanho – o salão só podia comportar
algumas centenas de pessoas, além de seu endereço não ser
particularmente popular.
No entanto, seu acontecimento
protagonizou uma espécie de marco zero, um ponto de virada, uma faísca que
inflamaria uma Cultura de magnitude Internacional cujo qual está entre nós até
os dias de hoje. E como o próprio Kool Herc disse em uma declaração recente ao
canal BBC: “Esta primeira festa de Hip Hop mudaria o mundo”.
Todavia, os fatores que levaram à
criação do Hip Hop foi um tipo de fusão de influências sociais, musicais e
políticas tão diversas e complexas quanto seu próprio nome.
Em seu premiado livro, “Can’t Stop Won’t Stop: A History of the Hip Hop Generation”, o jornalista e acadêmico “Jeff Chang” identifica os fundamentos do Hip Hop nas políticas sociais de “renovação urbana pioneira” desencadeada pelo engenheiro Robert Moses e a “benigna negligência” da administração de Nixon. A faraônica construção da “Cross-Bronx Expressway” [importante rodovia no bairro de Nova York, no bairro do Bronx, construída entre 1948 e 1972, sobre a qual transporta o tráfego pela Interstate 95 (I-95) pela cidade e serve como uma parte da I-295 em direção a Long Island; sendo parte desta também designada pela US Route 1 (US 1).
A Cross Bronx começa na Alexander
Hamilton Bridge sobre o Harlem River, onde a Trans-Manhattan Expressway
continua a oeste através da parte alta de Manhattan até a George Washington
Bridge. Enquanto a I-95 parte no Bruckner Interchange em Throgs Neck, seguindo
a Bruckner Expressway e New England Thruway até Connecticut, a Cross Bronx
Expressway Extension continua a leste, levando a I-295 até a fusão com a Throgs
Neck Expressway, perto da Throgs Neck Bridge.
Embora a estrada vá principalmente de
noroeste a sudeste, as direções nominais de todos os números de rota a oeste do
Interchange de Bruckner estão alinhadas com o número da rota que vai para o
sudeste, e o número da rota para o sul indo para o noroeste], em Nova York,
varreu muitos bairros étnicos da cidade, destruindo casas e empregos e
deslocando as comunidades negras e hispânicas pobres para estas terras
extremamente desvalorizadas, compreendidas pelo East Brooklyn e o South
Bronx, enquanto o governo fazia vista grossa para os todo o cenário afetado.
“O Hip Hop não começou como um movimento político”, disse Chang à coluna BBC Culture:
“Não houve manifesto. As crianças que
começaram, começaram a tentar encontrar maneiras de passar o tempo, estavam
tentando se divertir. Mas eles cresceram sob a política do abandono e, por
causa disso, seus passatempos continham as sementes de uma espécie de renovação
cultural de massa”.
O Hip Hop refletiu uma mudança profunda
no início da década de 1970, após a supressão do FBI aos grupos negros radicais
do final dos anos 1960 e o declínio das guerras entre gangues. Em vez de adotar
uma ação política, uma nova geração se expressou através do DeeJayin, do
EMCeein, do B-Boying / B-Girling (Breakdancing) e do Graffiti, os “quatro
elementos” do Hip Hop. O historiador de hip hop e ex-artista “Fab 5 Freddy”,
responsável por cunhar este termo, argumentou que a interatividade dos “quatro
elementos” provou que o Hip Hop é além de um movimento puramente musical ou
artístico – é uma cultura completa.
A professora de Estudos Afro-Americanos e diretora do Arquivo Hip Hop da Universidade de Harvard “Marcyliena Morgan”, afirma que a importância de celebrar as narrativas positivas geradas pela geração pioneira do Hip-Hop.
“Os Hiphoppas literalmente mapearam na
consciência do mundo um lugar e uma identidade para si mesmos como os criadores
de uma nova forma de arte excitante”, ela diz à BBC Culture. “Eles criaram
valor em raças e lugares que pareciam oferecer apenas devastação”.
Kool Herc, juntamente com Afrika
Bambaataa e Grandmaster Flash, são considerados a realeza da “Santíssima
Trindade” dos primórdios do Hip Hop. Mas a história de Herc, insiste Chang, é
onde tudo começou:
“Sem o DJ Kool Herc, não estaríamos
falando sobre [Hip Hop] agora, mais de quatro décadas depois, em todo o mundo”,
diz ele.
Clive Campbell nasceu na Jamaica,
mudou-se para Nova York em 1967 e ganhou o apelido de “Hércules” [abreviado
para “Herc”] por sua estatura impressionante. Seu pai, Keith tinha uma
coleção diversificada de discos e, como produtor de uma banda local – e
importante para a crescente carreira de DJ de Herc – possuía fácil acesso aos
equipamentos de som. Favorecido pelo ambiente oferecido pelo pai, Herc começou
a tocar em festas caseiras, onde desenvolveu algumas inovações técnicas
importantes. Ele encontrou uma maneira de fazer sua performance exclusiva,
usando dois toca-discos e um mixer para alternar entre os discos (com os
rótulos raspados, ao estilo jamaicano, para proteger seus segredos).
Deste modo, o jovem que passou
assistindo sound systems [equipes de som, em bom português] rivais em Kingston,
trouxe consigo a Cultura Jamaicana para o Bronx – o booming bass e o dub, além
do costume do “toasting ” ou falar por sobre os discos em execução, que seu
amigo e conterrâneo Coke La Rock usou para causar o poderoso efeito na mítica
festa da Sedgwick Avenue.
Ainda mais curioso, Herc observou que os dançarinos estavam enlouquecendo com os trechos instrumentais nos discos, e começou a procurá-los nas faixas para mantê-los por mais tempo na pista. Aliás, os mais famosos trechos “Bongo Rock” e “Apache”, do The Incredible Bongo Band, foram os arrojados instrumentais utilizados para revelar a nova criação de Herc: as batidas de bongô e conga mantiveram a multidão dançando por mais tempo. Foi uma observação simples, mas a criação do “breakbeat” seria uma das principais inovações da música de dança contemporânea, que, diga-se de passagem, legitimaria para sempre os dançarinos daquela noite mágica com o nome B-Boys/B-Girls (Break-Boy/Girl).
Popularizador das “block parties”
[festas de rua, em bom português], outro traço de sua cultura jamaicana, no
final de 1973, Herc deixou o espaço diminuto do salão do playground da Sedgwick
Avenue, e se mudou para clubes maiores e para o ar livre e arborizado do Cedar
Park, localizado a alguns quarteirões do seu endereço residencial no Bronx, e
por alguns anos – com sua equipe, os “Herculóides” – foi o suprassumo da cena
musical da região. Mas, em 1977, sua invencibilidade seria quebrada por
DJs rivais de Nova York, principalmente pot Afrika Bambaataa e Grandmaster
Flash, ambos de South Bronx.
Mas o que aconteceu com a “1520 Sedgwick
Avenue” atualmente?
Em 2007, Kool Herc participou de uma
campanha para impedir que o bloco de apartamentos fosse vendido para
investidores leigos. O salão de festas que registrou a festa de debutante de
Cindy foi oficialmente reconhecida pela “NYC Housing Preservation” como “O
Berço do Hip-Hop”.
Pode-se afirmar que história da “Gênese
do Hip Hop” é uma lenda tão envolvida na mitologia quanto a do Movimento Punk e
do show dos “Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall”, em Manchester, três anos
depois. E como esse show que protagonizou o nascimento do “pós-punk”, indie e
toda a cena de Manchester, milhares já afirmaram que estiveram na “festa de
Cindy, no dia 11 de agosto de 1973”, muito embora o número real que compareceu
seja estimado entre 40 e 100 pessoas.
Mesmo assim, o que torna esse episódio
da Sedgwick Avenue tão importante?
“Toda cultura precisa de um mito da criação”, diz Chang. “Essas histórias nos falam sobre os tipos de valores que queremos transmitir. Eu acho que a história do grupo de Herc e Cindy, de maneiras que talvez não tenhamos percebido, fala da necessidade de alegria em meio à agitação, o poder da criatividade contra a destruição, a ética do ‘começar de baixo’ que os jovens sempre encontrarão como garantia de um caminho para se expressar”.
“Toda cultura precisa de um mito da criação”, diz Chang. “Essas histórias nos falam sobre os tipos de valores que queremos transmitir. Eu acho que a história do grupo de Herc e Cindy, de maneiras que talvez não tenhamos percebido, fala da necessidade de alegria em meio à agitação, o poder da criatividade contra a destruição, a ética do ‘começar de baixo’ que os jovens sempre encontrarão como garantia de um caminho para se expressar”.
Relembrar e preservar o legado da 1520
Sedgwick Avenue, deixado pelo DJ Kool Herc naquela noite de 11 de agosto de
1973 é uma maneira de manter esses valores positivos vivos.
“O Bronx ganhou os direitos da história
do DJ através da repetição constante sobre a primeira vez que Kool Herc
conectou seu system e mixou discos”, diz o professor Morgan. “E os pioneiros do
Hip Hop transformaram a terra do gueto na ‘Terra do Mito e do Futuro’”.
Jeff Chang concorda Morgan. Para ele,
olhar para os primórdios do Hip-Hop também é uma maneira de olhar à frente no
futuro.
“Eu não sou purista ou nostálgico”, diz
ele. “Mas acredito nos valores que sustentam o Hip Hop desde o início:
Inclusão, Reconhecimento, Criatividade e Transformação. No final, o Hip
Hop é sobre adolescentes, é sobre a juventude. E enquanto eles estiverem levando
esses valores adiante, o Hip Hop não morrerá ”…………………
Fonte: Acorda Hip Hop – Trilogia – Dj
Zulu Tr6
Hiphop Day Party
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