Vários utilizadores da rede de telefonia móvel angolana Unitel recorreram às redes sociais, onde desde ontem, quarta-feira, têm denunciado a recepção de chamadas internacionais de números desconhecidos, que resultam em elevados descontos de saldo. Não se trata, contudo, de um problema que as operadoras possam, resolver.
O
Folha 8 ligou para os serviços de apoio ao cliente da Unitel,
procurando esclarecimentos. A operadora mostrou-se alheia às
ocorrências, afirmando que não se responsabiliza pelo simples facto de
as chamadas serem de proveniência internacional.
De
acordo com as denúncias que circulam nas redes socias Facebook e
Whatsapp, trata-se de um ataque designado como “Phrack”, nome resultante
de duas palavras da língua inglesa: Phone Hacking, que significa
piratear telefone.
O
Phreaker é o hacker ou pirata electrónico da telefonia móvel e fixa, que
utiliza as mais diversas e engenhosas técnicas para burlar os sistemas
de segurança das companhias telefónicas, normalmente para fazer ligações
de graça ou conseguir créditos.
“Aviso
a quem receber beeps (chamada bip) de números internacionais
desconhecidos semelhantes aos indicados abaixo, que não retorne pois
trata-se de um ataque “Phracker” (Phone Hacking). Se retornar, o
desconto por minuto será a triplicar e ficará sem saldo. É um novo tipo
de burla via chamada onde o criminoso ganha dinheiro com a chamada a
cobrar,” lê-se numa das denúncias.
Na
ausência de um esclarecimento oficial por parte da operadora Unitel, os
telefonemas internacionais desconhecidos têm causado medo e outras
inconveniências aos usuários.
“Pessoal
boa noite, eu e a minha irmã e mais alguns cidadãos recebemos uma
ligação deste número. Para ser sincera, estou com medo porque não
sabemos ainda o que se passa na realidade. Portanto, só peço a vocês
para não atenderem às chamadas deste número e vamos partilhar até chegar
a nossa Polícia Nacional e rede de móveis”, denunciou uma usuária.
“Alguém
ligou para mim com este terminal +247931099, não atendi porque estava
ocupado. Como eu estou à procura de emprego, preocupei-me em retornar a
chamada, pus saldo de 125 UTTS, liguei e logo que ele atendeu o saldo
acabou. A Unitel não nos respeita porquê?”, questionou um outro usuário.
O
F8 recolheu os seguintes números denunciados: +247553135, +247553149,
+247553192, +247931138, +247 931098, +247553148 e o +247931099, dando
conta que todos eles têm o indicativo +247,que pertence à Ilha de
Ascensão, localizada ao centro do Oceano Atlântico, vizinha da Ilha de
Santa Helena, ambas sob jurisdição do Reino Britânico.
Este
não é, aliás, um roubo recente. De acordo com alguns lesados,
nomeadamente em Portugal, os burlões dão um a dois toques e depois
desligam, aguardando que o visado ligue de volta.
Em
Portugal, tanto a Deco (associação defensora dos consumidores) como a
Polícia Judiciária tem registo várias queixas. O modus operandi é
relativamente simples, embora varie de país para país, havendo registos
de alguns dos burlões terem números telefónicos com indicativos da
Polónia e do Bangladesh.
Por isso, recorde-se, a defesa é simples: se não conhecer o utilizador não devolva a chamada.
O que é a Ilha de Ascensão?
Recorde-se
que em Julho de 2015, o website WikiLeaks revelou que foi a partir da
ilha de Ascensão, que agentes do ex-presidente norte-americano, Barack
Obama, conseguiram espionar conversas telefónicas e trocas de e-mails da
ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
A
Ascensão é uma ilha que fica no meio do Oceano Atlântico sul, próximo de
Angola. A ilha foi descoberta e nomeada pelos portugueses em 1501. Os
ingleses tomaram o local em 1815 de modo a prevenir um possível resgate a
Napoleão Bonaparte pelos franceses, que estavam presos pelos ingleses
na ilha mais próxima, a Santa Helena.
Pela
sua proximidade com Angola e por ter sido descoberto pelos portugueses,
há quem defenda que a Ilha da Ascensão deve pertencer ao território
angolano.
Ascensão
tornou-se uma estação da Marinha britânica para o combate ao tráfico de
escravos, permanecendo sob domínio das Forças Armadas inglesas até
1922, quando se tornou uma dependência da ilha de Santa Helena.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido permitiu que os Estados Unidos
construíssem a Base Aérea Wideawake em Ascensão em apoio aos voos
transatlânticos para a África e também para operações anti-submarinos no
Atlântico Sul.
Em
1982, Ascensão foi um local crucial para as forças britânicas durante a
Guerra das Falklands (Malvinas), e ainda hoje é ponto vital para
reabastecimento na ponte aérea do Reino Unido para o Atlântico Sul.
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