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domingo, 10 de janeiro de 2021

O que Jack Ma disse para provocar a fúria do governo da China | Negrão Muzik

 O que Jack Ma disse para provocar a fúria do governo da China

Bilionário dono do Alibaba não aparece em público há pelo menos dois meses





Jornais de todo mundo têm se perguntado onde está Jack Ma, dono de um império chamado Alibaba e homem mais rico da China. Sem aparecer em público há pelo menos dois meses, a maioria das publicações assimilam o sumiço a seu discurso em outubro passado, quando criticou o governo chinês numa conferência em Xangai.

Conforme a rede CNBC, na ocasião Ma teria dito no Shanghai’s Bund Summit que a China tinha um sistema financeiro ultrapassado e que necessitava de uma reforma para entregar um novo para a próxima geração. Criticou também os bancos, que para ele se comportam como casas de penhor, emprestando apenas para aqueles que podem oferecer garantia, e disse que os reguladores chineses que sufocam a inovação.

Depois da fala, em novembro, Ma foi convocado para uma reunião com autoridades chinesas, que impediram a IPO da Ant Group, faltando apenas alguns dias da oferta nas bolsas de valores de Xangai e Hong Kong.

Posteriormente, veio à tona uma investigação do governo chinês, tanto no Alibaba quanto no setor de fintechs de pagamentos, uma tentativa de descobrir se havia um comportamento monopolista ou excesso de poder.

China dos anos 50

No mês passado, o jornal americano The New York Times revelou que houve uma mudança na imagem pública de Ma por conta das críticas do governo chinês. Ele foi chamado de vilão, capitalista do mal e fantasma sugador de sangue, segundo a publicação.

Segundo o jornal, o Partido Comunista parece mais do que disposto a explorar esse ressentimento, visto que o maior líder da China, Xi Jinping, é conhecido por pregar acima de tudo o servilismo e a lealdade ao país.

Ou seja, o caso de Jack Ma mostra o quão difícil é ser bilionário na China, mesmo que você tenha todas as armas para sugerir mudanças. Zhiwu Chen, um economista da escola de negócios da Universidade de Hong Kong, foi além, e disse: “Dado o que aconteceu, o Ant Group terá de ser controlado ou até mesmo tornar-se propriedade do Estado”.

Contudo, o NYT concluiu que é muito cedo para afirmar que os reguladores da China podem controlar Ma e as grandes tecnologias, mas que há temor de que o país esteja caminhando em direção à linha dura dos anos 1950. Naquela época, disse o jornal, o partido eliminou a classe capital, tachando tendências capitalistas de impuras e falhas.

Onde está Jack Ma

Em entrevista à National Public Radio (NPR), o consultor de tecnologia Duncan Clark, que conhece Jack Ma há décadas, disse ter algumas ideias do que pode estar ocorrendo. Ele é autor do o livro “Alibaba: A casa que Jack Ma construiu”.

Para Clark, o bilionário chinês é um ponto fora da curva: “Jack Ma é um empreendedor de tecnologia incomum, já que ele não é um cara de tecnologia”. Ele disse que, por considerar Ma um comunicador incrível, é bem estranho estar discutindo sobre um dos seus discursos.

Ele apenas estava tentando explicar que você não pode, por exemplo, administrar um aeroporto como administra uma estação de trem, disse Clark. Para ele, Ma errou quando suas críticas voltadas para o sistema regulatório global, foram também direcionadas à China, o que ele considera que foi um apelo a uma reforma no setor financeiro.

Sobre o sumiço de Jack Ma, Clark acredita que a ordem do governo foi para ele se esconder, ficar no cantinho dele. Mas ele também sugeriu que há espaço para outras interpretações:

“Cabe também se perguntar se há algum grau de ciúme ou irritação no presidente Xi ou para o governo em geral, por verem uma figura um tanto incontrolável aparecendo em todos os lugares do mundo”, disse.

Ele ainda acrescentou que, “em última análise, acho que o governo percebeu que esse poder era algo de que eles precisavam”. Clark se referiu às empresas criadas por Jack Ma, que ele considera essenciais para o bom funcionamento do comércio na China.

Esta e outras teses foram reforçadas em uma publicação recente da Forbes intitulada ‘Desaparecidos: Jack Ma e outros bilionários chineses que sumiram do mapa’. Nela, a revista faz uma analogia do caso com as investidas do governo chinês contra grandes empresários entre 2015 e 2020.




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